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Semiconductores

Semicondutores: o caminho da transformação digital

Seu nome comum esconde componentes essenciais para o desenvolvimento das tecnologias que estão mudando o rumo da história. Enquanto as potências mundiais lutam para levar a indústria ao seu território, o Panamá possui a infraestrutura para se tornar referência no mercado.

Emanuel Lyons Delvalle, diretor da Câmara de Comércio, Indústrias e Agricultura da região, fala sobre o ecossistema global deste negócio que afeta diretamente setores tão essenciais como telecomunicações, indústria automobilística ou dispositivos de saúde. “A cadeia de suprimentos desses produtos é uma das mais avançadas e, ao mesmo tempo, das mais frágeis, pela complexidade da sua produção”, explica.

A maior crise sofrida pelo negócio dos semicondutores (ou chips), referente aos anos de pandemia global, não derivou, no entanto, dessa complexa produção, mas da sua comercialização. “Os gargalos surgiram porque grande parte da manufatura é feita no sudeste asiático, e as rotas de distribuição para compradores nas Américas e na Europa foram alteradas”, disse o especialista. Esse contratempo fez com que os Estados Unidos assumissem as rédeas da indústria para levar a produção ao seu território, desenvolvendo a iniciativa Chips and Science Act, que procura aliados em países vizinhos do continente, favorecendo o nearshoring e criando um Fundo Internacional de Inovação e Segurança Tecnológica (ITSI).

O caso do Panamá como exemplo e referência

Embora a região ainda não tenha fábricas, conhecidas como fabs no negócio, nem fábricas de montagem, testes e embalagem (ATP – assembly, testing and packaging), o Panamá conta com uma excelente infraestrutura logística e de serviços para servir ao mercado, como nos assegura Lyons Delvalle. “Temos uma conectividade marítima, terrestre e aérea invejável com o Canal do Panamá, por onde transita 7% do comércio mundial, e três aeroportos internacionais a menos de 80 quilômetros da principal zona econômica do país”. Além disso, a sua situação geoestratégica, com modernas instalações portuárias de frente para o Pacífico e para o Atlântico, é complementada com uma legislação que favorece o investimento direto estrangeiro e que facilita a contratação de pessoal qualificado.

As instituições acadêmicas da região estão direcionando seus esforços de investimento e pesquisa para melhorar a eficiência da indústria local por meio de treinamento e capacitação. “O setor acadêmico, especialmente a Universidade Tecnológica do Panamá, vem desenvolvendo há anos o Centro de Tecnologias Avançadas em Semicondutores (C-TASc). Estão formando pessoal altamente capacitado, que pode fazer parte da etapa de design de chips. Além disso, a SENACYT está promovendo bolsas de estudo para capacitação de pessoal nas fases de montagem, testes e embalagem”, acrescenta o Diretor da Câmara de Comércio.

Liderança compartilhada na América Latina

Na região da América Latina, podemos assinalar três países que compõem uma cadeia de valor identificada pelos EUA e que estão se posicionando como referências para o comércio global em colaboração com o país norte-americano:

  • México. Graças à sua proximidade com os Estados Unidos e 30 anos de proliferação comercial, possui cadeias de fornecimento robustas que distribuem todos os tipos de produtos ao seu principal parceiro comercial.
  • Costa Rica. Tem uma fábrica da empresa americana Intel que testa chips (representa cerca de 3% de seu PIB) e está fazendo investimentos milionários para os próximos anos.
  • Panamá. Como o especialista nos informou, a região tem a capacidade logística, acadêmica e de infraestrutura para se inserir rapidamente na cadeia de suprimentos global.

O impacto deste desenvolvimento na região tem seus números mais reveladores no âmbito da formação e do emprego. Lyons Delvalle distingue dois impactos tangíveis: “Primeiro, a capacidade e o talento dos trabalhadores são elevados. São necessários diplomas avançados em ciência e tecnologia para trabalhar, o que implica um aumento nas habilidades do talento humano do país. Segundo, estima-se que, por cada emprego gerado pelas fábricas de semicondutores, são criados entre 5 e 6 empregos indiretos de outras empresas”.

Pontos fortes e fracos da indústria na região

Entre Panamá, México e Costa Rica não existem tentações de concorrência desleal, mas sim sinergias regionais e setoriais. “O Chips and Science Act, que fornece à iniciativa de nearshoring 500 milhões de dólares focados em pesquisa e desenvolvimento, não procura dar a um país vantagem sobre outro. Busca aumentar suas capacidades técnicas e acadêmicas para que todos façam parte da cadeia global. O Panamá pode atender perfeitamente as fábricas na Costa Rica e vice-versa, graças à sua infraestrutura logística. Parte do processo de ATP pode ser feito na América Central para depois terminar no México. A indústria é grande o suficiente para que todos os atores recebam os benefícios econômicos desta atividade”, comemora o especialista.

Embora a indústria pareça ter uma engrenagem perfeitamente calibrada, ela não está livre de desafios. “As interrupções na cadeia global, não só de produto acabado, mas de matérias-primas, colocam em perigo a estabilidade do negócio. Além disso, a falta de especialização global impede o rápido desenvolvimento do setor. Esses desafios são superados pelo fortalecimento das cadeias de fornecimento, tornando-as resilientes, e aumentando a capacidade acadêmica dos estudantes para que a indústria seja atraente”, conclui Lyons Delvalle.

Colaborou neste artigo:

ManuelLynois Seminconductores red

 

Emanuel Lyons Delvalle é diretor da Câmara de Comércio, Indústrias e Agricultura do Panamá, onde lidera sua comissão de semicondutores. Também é gerente geral da E-Business Distribution, uma empresa de tecnologia que vende e integra serviços de telecomunicações, redes de dados e sistemas de segurança.

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