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Retos del sector electrico en Colombia

Desafios do setor elétrico na Colômbia

Apesar do embate dos meses de pandemia na sociedade e na indústria colombianas, e portanto no setor elétrico, a região enfrenta com otimismo o início da recuperação e uma transição energética que, com o apoio do avanço tecnológico, impactará de forma muito positiva no desenvolvimento econômico do país. Christian Jaramillo, diretor da Unidade de Planejamento de Minas e Energia da Colômbia, fala-nos da situação do setor e dos principais desafios enfrentados na atualidade.

Na busca global de um modelo energético sustentável para os próximos anos, a Colômbia enfrenta a transição energética desde um lugar privilegiado para tornar-se líder deste processo na América Latina. Como nos revela Christian Jaramillo, diretor da Unidade de Planejamento de Minas e Energia (UPME), este é o caminho para um setor elétrico descentralizado, digitalizado e descarbonizado. “O país conta com recursos naturais renováveis de classe mundial, e um meio de mercado propício para o investimento e o desenvolvimento destes recursos, que em conjunto permitiriam avançar na substituição de combustíveis poluentes”, assinala. Além disso, como nos explicam desde esta instituição subordinada ao Ministério de Minas e Energia, “foram dados sinais de política pública para incentivar o desenvolvimento de novas fontes de geração de energia limpa, a adoção de tecnologias de eficiência energética, medições inteligentes e transportes de baixas emissões”, estimulando tanto consumidores como empresas a apostar nas novas tecnologias e, com isso, otimizar o uso energético, melhorar a competitividade das empresas do setor e mitigar o impacto ambiental.

 

Ainda que a energia de origem hídrica seja fundamental para a região, o potencial da Colômbia no âmbito renovável é indiscutível, especialmente em energia solar e eólica, atualmente uma referência na região. “Atualmente contamos com 18 GW instalados, dos quais 68% são hidro, 30% térmico, 1% em renováveis não convencionais e o restante 1% em outras fontes. Em contrapartida, há conexões aprovadas para mais de 18 GW, dos quais cerca de 13 GW são renováveis não convencionais, ou seja: 10 GW em energia solar e quase 3 GW em eólica. No entanto, devemos considerar que a regulamentação mais recente estabeleceu obrigações cujo descumprimento implica a perda do ponto de conexão e o desbloqueio da capacidade, que poderá ser atribuída de novo posteriormente. Nesse caso, as cifras dos projetos com conexão aprovada e compromissos com o mercado elétrico somam 3,3 GW em renováveis: 2 GW em eólica e 1,3 GW em solar”, expõe Jaramillo.

Desafios conjunturais

Nos últimos meses, tanto o setor como a região se viram imersos em uma delicada conjuntura que pôs à prova a rede de infraestruturas elétricas do país. Por um lado, a sociedade enfrentou a crise social e sanitária derivada da pandemia da Covid-19, com um impacto negativo na economia. Em 2020 o crescimento do PIB foi de -6,8%, o registro histórico mais baixo desde o início da contagem dessa estatística no país. O setor energético viu-se, portanto, atacado. “Devido às restrições à mobilidade e aglomerações, a demanda dos principais setores energéticos viu-se drasticamente reduzida em abril e maio de 2020 (meses de maiores restrições) e conforme as atividades econômicas se abriram, a demanda foi se recuperando”, afirma Jaramillo. Em 2020, a energia elétrica teve uma redução de 2% em relação a 2019, evento que não se apresentava desde a crise de 2000. Por sua vez, o gás natural caiu 3,26%. Os setores que mais reduziram seu consumo foram o terciário, petroleiro e transporte. “Hoje podemos ver que as demandas se recuperaram e já se encontram em níveis superiores aos registrados antes da pandemia. Já se observa a reativação da economia colombiana graças à abertura dos setores produtivos e ao avanço na vacinação”.

Outra das pressões sofridas pelo setor nos últimos meses tem a ver com o fato de que 70% da capacidade instalada de geração elétrica estão concentrados em recursos hídricos, um alto nível de dependência. No entanto, um dos aspectos que afetou recentemente o país foi a seca, que obrigou a aumentar a geração termoeléctrica de respaldo e importar eletricidade do Equador. Apesar disso, a UPME considera que a região não se encontra em uma situação-limite. “O nível dos reservatórios está em 84%, o que permite atender à demanda atual e contar com reservas para o próximo verão. Entre os anos 2023 e 2024 a proporção hidroelétrica mudará com a incorporação dos projetos térmicos e de renováveis comprometidos com o mercado elétrico. A porção hidroelétrica ficará em torno de 60% e as renováveis em 13%”, assegura seu diretor.

Perspectivas da UPME

202120232034
Hidro68%59%49%
Termico30%27%23%
Fontes não Convencionais de Energias Renováveis (FNCER [Fuentes no Convencionales de Energías Renovables])1%13%21%

 

Para a implantação deste parque gerador, Jaramillo explica que “o Plano de Expansão, mediante a otimização dos custos de investimento e operação, analisou cinco cenários a fim de identificar os requerimentos de capacidade adicional à comprometida através de leilões do cargo por confiabilidade, de contratação a longo prazo e mediante garantias de expansão. Os resultados mostram que no cenário mais exigente, que condiciona a utilização dos recursos, em 2034 serão necessários pelo menos 6 GW adicionais aos já comprometidos, dos quais 5 GW, espera-se, sejam renováveis não convencionais (solar e eólica).

Desafios e oportunidades do setor

Atualmente estão sendo executadas 22 obras de transmissão nacional e regional sujeitas à convocatória pública. Ainda que todas sejam fundamentais para atender à demanda, sustentar a continuidade do serviço e reduzir custos excedentes por restrições, a UPME destaca “obras como o reforço de 500 kV ao Caraíbas, a bateria em Barranquilla, primeiro projeto deste tipo na Colômbia, e outras na área Centro Oriental (Cundinamarca e Meta), determinantes para uma região que consome 25% da demanda do país”.

 

Em termos de potencial, o recurso eólico concentra-se na Guajira e parte do Magdalena, Atlântico e Bolívar. Também existe potencial offshore na região, para o qual foi desenvolvido um mapa de rota. Por sua vez, o potencial solar está mais distribuído no território nacional. Ambos podem ser consultados nos Atlas disponíveis no site da UPME.

Radiacion solar en Colombia

Outro dos recursos fundamentais do setor é o trabalho da rede de distribuição, fundamental para garantir o atendimento à demanda, a continuidade do serviço, a redução de custos adicionais por restrições e a conexão entre usuários, geradores e grandes consumidores. “O exercício de planejamento é contínuo e permite seguir identificando necessidades e deficiências, e com isso novas obras. Entre as melhoras ao processo está o planejamento antecipado e a visão a longo prazo, de tal forma que as mudanças de infraestrutura cheguem a tempo e sejam oportunidades, não reações”, aponta Jaramillo.

Apesar da margem de melhora, a UPME afirma que o nível do setor elétrico é muito alto, ainda que sempre procure o impulso da mudança como parte da engrenagem requerida pela economia de um país para seu funcionamento e nível de competitividade. “As limitações identificadas com o passar do tempo por obsolescência, falta de espaço, administração dos mercados e redes, etc., levam a criar novas soluções tecnológicas, inclusive na mesma infraestrutura elétrica. Prova disso são as recentes válvulas eletrônicas que permitem administrar fluxos na rede e evitar sobrecargas ou outros problemas”, incidem. Um dos principais processos implantados com sucesso na cadeia de valor são as baterias, com usos importantes não só no armazenamento, mas também no suporte de variações ou problemas de rede. “Os sistemas flexíveis de compensação (FACTS) baseados em eletrônica, o monitoramento remoto para a medição e a operação, as subestações inteligentes e desatendidas, e muitas outras, são algumas das tendências que poderiam beneficiar-se mais da TI, a administração das decisões dos consumidores e a geração distribuída aproveitando os recursos renováveis”.

Com respeito ao papel que cumprirá o setor energético, e mais especificamente o renovável, no desenvolvimento econômico, social e competitivo da Colômbia, a UPME tem claro que não só será fundamental no âmbito ambiental, mas se converterá em um pilar para suportar efeitos da mudança climática sobre o componente hídrico, o que pode redundar em segurança no abastecimento e na estabilidade dos preços, além de dotar de um serviço em condições dignas aos lares da região. “Para finalizar, vale a pena assinalar que o avanço tecnológico que busca descarbonizar o consumo de energia está centrado na eletrificação. O uso da energia elétrica em setores como o transporte, a indústria e outras aplicações que hoje utilizam combustíveis fósseis se traduzirá em um aumento substancial da demanda energética. Em consequência, a capacidade de geração e transmissão deverá aumentar de acordo para não só sustentar o crescimento de demanda usual mas também o consumo proveniente de novos setores”, conclui Christian Jaramillo.

 

Colaborou neste artigo:

 

Christian JaramilloChristian Jaramillo estudou Física e Engenharia Mecânica na Universidade de los Andes, e tem mestrado e doutorado em Economia pela Universidade de Michigan em Ann Arbor.

 Com mais de 20 anos de experiência no setor público e privado, foi subdiretor do DANE (Departamento Administrativo Nacional de Estatística) e diretor de Gerenciamento Organizacional da DIAN ([Dirección de Impuestos y Aduanas Nacionales] Diretório de Impostos e Alfândegas Nacionais).

 No setor energético foi especialista comissionado da CREG e exerceu a direção executiva da entidade de julho de 2018 até janeiro de 2020. Jaramillo também atuou como docente na faculdade de Economia da Universidade de los Andes e atualmente é professor da Universidade de Rosario.

A Unidade de Planejamento de Minas e Energia (UPME) é uma unidade técnica ligada ao Ministério de Minas e Energia da Colômbia, e como planejadora tem várias responsabilidades relacionadas com a geração de energia elétrica, as redes de distribuição e a cobertura do serviço, dentre outras. Além disso, ocupa-se de elaborar o Plano de Expansão, que, em matéria de geração, determina a capacidade adicional e o mix que o país requer em função dos recursos disponíveis. No entanto, não estabelece os projetos a executar já que a geração é uma atividade de livre iniciativa. Adicionalmente, em termos de transmissão nacional, identifica necessidades, deficiências e define os projetos. Para a execução dos projetos de transmissão selecionam-se investidores através de processos de convocatória pública, também a cargo da UPME.

 Igualmente, esta Unidade encarrega-se do Plano indicativo de Expansão da Cobertura, que identifica as moradias sem serviço e as possíveis soluções, dentre elas, quais são interconectáveis, em que casos vale a pena originar uma microrrede e quais definitivamente terão soluções individuais.

 

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