Home > Revista Gerência de Riscos e Seguros > Estudos > Construção sustentável: desafio e futuro da América Latina
construccion-sostenible-latino-america

Construção sustentável: desafio e futuro da América Latina

Cristina Leon Vera | 07/11/2023

Com o propósito de lutar contra a mudança climática, os países da América Latina estão tentando criar garantias de sustentabilidade em todos os setores. A construção, por seu impacto ambiental e contribuição para o desenvolvimento econômico da região, é um objetivo essencial.

Entre as múltiplas iniciativas que estão sendo realizadas em escala nacional, abordamos o projeto internacional CEELA. O objetivo é capacitar e assessorar os profissionais da América Latina na promoção de edificações com eficiência energética, conforto adaptativo e poucas ou zero emissões de CO2, especialmente em zonas climáticas quentes como Colômbia, Equador e Peru. Com sua equipe técnica, Johana Infante, especialista em construção sustentável, nos lembra que, no mundo todo, a construção representa aproximadamente 39% das emissões de CO2. Essa é uma das principais causas do aquecimento global. “A previsão é que exista um aumento de emissões no setor nos próximos anos, associados principalmente ao aumento no consumo de energia final nos edifícios e especialmente no uso da eletricidade”, afirma.

No caso da América Latina, a construção representa 21% das emissões operacionais de CO2. Elas estão associadas ao consumo de eletricidade e gás natural, representando cerca de 50% do consumo total. “Para reduzir as emissões, as medidas mais relevantes são conseguir uma matriz elétrica baixa em emissões, eficiência no projeto de edifícios e autogeração de eletricidade nos edifícios”, adverte, junto com o uso de sistemas de energia renovável nos edifícios, como sistemas fotovoltaicos ou sistemas solares térmicos. Nesse sentido, o Projeto CEELA publicou um guia completo de recomendações e critérios. É um ponto de partida para conhecer os vários aspectos a serem considerados e os termos de referência padronizados para a região.

Elementos necessários da transformação

O projeto CEELA definiu uma lista de princípios, que em conjunto permitem projetar, implementar e, depois, operar edifícios com alta eficiência energética e conforto adaptativo (EECA). Esses seriam:

• Princípios de Projeto e Construção. Medidas que são principalmente de projeto passivo ou bioclimático, e de planejamento.

Princípios de Projeto e Construção. Fonte: Projeto CEELA.

Princípios de Projeto e Construção. Fonte: Projeto CEELA.

• Princípios técnicos. Estratégias com sistemas ativos, seja como fornecimento de climatização ou iluminação, ou como autogeração de energia no edifício.

Princípios técnicos. Fonte: Projeto CEELA.

Princípios técnicos. Fonte: Projeto CEELA.

Como explica a especialista, a execução desses critérios “exige que sejam levados em consideração diversos aspectos em todas as fases do projeto. Esse projeto integrado é uma estratégia que tem amplas vantagens ao ser implementado, desde as fases iniciais do projeto, já que procura otimizar a eficiência energética e o conforto térmico de maneira conjunta entre parâmetros de arquitetura e engenharia”, além de permitir a verificação da viabilidade técnica, econômica e cultural da construção desde as fases iniciais.

Valorização do setor local

Johana Infante destaca que o princípio de incorporação que seu projeto estimula refere-se à variedade incorporada, “aquela utilizada para os materiais, produtos e trabalhos de construção e desconstrução” em todas as fases da construção. “Uma estratégia de otimização bem pensada em relação à energia incorporada ajuda a mitigar a crescente escassez de materiais na indústria da construção”, assinala. Para isso, é preferível “o uso de materiais de origem local. Materiais reciclados e materiais com alta capacidade de reciclagem devem ser priorizados. Além disso, será considerada a redução no uso de materiais como concreto ou aço, conforme os alinhamentos do projeto estrutural e os processos construtivos locais o permitam”, afirma.

O projeto CEELA promove o desenvolvimento da construção sustentável ao projetar edifícios modelo responsáveis com o meio ambiente e comprometidos com o bem-estar das pessoas. Uma das iniciativas realizadas foi o conjunto residencial DAMMAR. Uma habitação social localizada na cidade de Cartagena (Colômbia) que incorpora ventilação natural e destaca o controle da radiação solar direta. Também foram realizadas edificações acadêmicas em Nazca (Peru) e Cuenca (Equador). “Todos os edifícios modelo serão monitorados após a etapa de construção, onde será medida e analisada a eficiência, as energias renováveis e o conforto de cada projeto com um sistema de monitoramento baseado em sensores de parâmetros ambientais e energéticos, armazenamento e visualização de dados”, realça a especialista. Além disso, realiza-se um sistema de pesquisa com os usuários e uma avaliação das faturas de energia elétrica e os parâmetros ambientais.

Energia renovável e gestão de água responsável

O mercado de energia renovável chegou a ter uma paridade comercial com outras formas de energia convencionais e com o Projeto CEELA destaca-se a energia solar como uma das alternativas mais viáveis em termos técnicos e econômicos. “Nossa atenção está no uso de superfícies adequadas com energia solar fotovoltaica, já que a demanda de climatização (alimentada por energia elétrica) costuma coincidir precisamente com a maior oferta de energia solar. Os coletores solares térmicos são úteis para a geração de água quente. Em áreas mais quentes, os coletores solares térmicos podem atender à baixa demanda de água quente (chuveiro, lavagens)”, afirma.

Outro aspecto fundamental da sustentabilidade é o uso responsável da água, estabelecendo diretrizes que incluam “informações sobre o dimensionamento e a seleção dos dispositivos e acessórios de economia de água (por exemplo, a capacidade do reservatório do WC, o limitador de saída, etc.) e o consumo de água previsto para um uso padrão”, conclui.

Tem colaborado neste artigo:

Johana construccion sostenible latino america

 

Johana Infante , arquiteta graduada pela Universidade Católica da Colômbia, com Mestrado em edificação sustentável na especialidade de auditoria e certificação energética da edificação pela Universidade da Corunha, Espanha. Faz parte da equipe do Projeto CEELA, iniciativa de cooperação internacional, como coordenadora técnica na implementação dos edifícios modelo e no eixo regulamentar para a construção da edificação com princípios de eficiência energética e conforto adaptativo.

donwload pdf
Riscos interconectados: experiência diante da incerteza

Riscos interconectados: experiência diante da incerteza

Os gestores de risco na Europa enfrentam hoje um cenário em que diferentes ameaças estão conectadas de forma cada vez mais profunda. Essas conexões ampliam sua probabilidade, impacto e complexidade, exigindo, portanto, uma abordagem especialmente integrada para sua...

ler mais
Fenômenos solares extremos: como impactam a Terra?

Fenômenos solares extremos: como impactam a Terra?

O Sol, motor energético do nosso sistema planetário, nos fornece luz e calor, mas também gera fenômenos de grande intensidade que impactam diretamente a vida na Terra. Estudar esses eventos é crucial, pois eles podem representar um risco para as redes elétricas e os...

ler mais