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Transição energética na indústria de Petróleo e Gás espanhola

Cristina Leon Vera | 21/08/2025

O processo de descarbonização no setor de petróleo e gás tem suas raízes na crescente consciência sobre a mudança climática e a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Um marco fundamental foi o Acordo de Paris, tratado internacional assinado em 12 de dezembro de 2015, onde os países se comprometeram a limitar, neste século, o aumento da temperatura global a menos de 2° C acima dos níveis pré-industriais. O acordo entrou em vigor em 4 de novembro de 2016 e foi assinado por 194 partes (193 países mais a União Europeia).

A partir deste momento, começaram a ser tomadas uma série de medidas pelos países signatários, tais como:

  • Transição para Energias Renováveis: Houve um aumento considerável na adoção de energias renováveis, especialmente a solar e a eólica. A capacidade instalada de energia solar superou as expectativas, diante de uma previsão de 350-400 GW a nível mundial, finalmente foram instalados 452 GW em 2024, contribuindo significativamente para a redução de emissões.
  • Mobilidade Elétrica: A promoção de veículos elétricos tem sido prioridade. Muitos países estabeleceram metas ambiciosas para a eliminação gradual de veículos de combustão interna e incentivaram a compra de veículos elétricos. A título de exemplo, na Espanha foi prorrogado o plano MOVES III durante 2025, que incentiva a compra de veículos híbridos plug-in e elétricos, aumentando os subsídios caso o veículo antigo seja entregue para sucata.
  • Compromissos Nacionais: Os países apresentaram e atualizaram suas Contribuições Determinadas a Nível Nacional (NDCs), que são planos para reduzir as emissões e adaptar-se à mudança climática. Embora alguns compromissos ainda sejam insuficientes, há um esforço contínuo para melhorá-los.
  • Financiamento Climático: Aumento do financiamento para projetos de mitigação e adaptação à mudança climática. Instituições financeiras e governos estão destinando mais recursos para apoiar a transição para uma economia baixa em carbono. Neste caso, o Banco Mundial prevê destinar, durante o período de 2024-2025, 45% do seu financiamento anual a projetos climáticos (mais de 40 bilhões de dólares), e a UE desenvolveu o programa LIFE para o financiamento de projetos relacionados à economia circular, poluição zero, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, entre outros, com um orçamento de 5.432 milhões de euros entre 2021-2027.
  • Pesquisa e Desenvolvimento: Os fundos destinados à pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas foram ampliados. Muitos governos implementaram incentivos fiscais e subsídios para empresas e centros de pesquisa que desenvolvem tecnologias de baixo carbono. Também foram estabelecidas alianças e colaborações entre países, universidades e empresas para compartilhar conhecimento e acelerar o desenvolvimento de tecnologias de descarbonização. Um exemplo é a Mission Innovation, lançada durante a COP 21 de Paris em 2015, que reúne mais de 20 países (incluindo Espanha, Alemanha, França, Estados Unidos, China, Índia, Brasil, Japão, Canadá, entre outros) com o objetivo de acelerar o investimento público e privado em inovação em energia limpa, tornando-a acessível e atraente para todos. Essa iniciativa conta com a colaboração do Banco Europeu de Investimentos (BEI) e do Banco Mundial para financiar projetos de inovação climática.

Em nível nacional, destaca-se a criação do Plano Nacional Integrado de Energia e Clima (PNIEC) 2021-2030, que estabelece objetivos claros, como uma redução de 23% nas emissões de gases de efeito estufa em relação a 1990 e um aumento de 42% no uso de energias renováveis no balanço global de consumo.

No caso da indústria petrolífera, um dos setores de maior geração de CO₂, ela foi obrigada a reconfigurar seu modelo de negócio, forçada pela necessidade de redução das emissões, exigência imposta por governos, mercados e cidadãos. As empresas estão reformulando sua identidade, deixando de ser exclusivamente operadoras petrolíferas para se tornarem “companhias energéticas integradas”. Isso inclui investimentos na produção e comercialização de energias renováveis (solar, eólica, hidrogênio verde), captura e armazenamento de carbono (CCS), mobilidade elétrica e infraestrutura de recarga, além de soluções digitais para melhorar a eficiência energética.

Essas decisões não são altruístas, mas estratégicas: a demanda global por petróleo, embora ainda robusta (superando 102 milhões de barris diários no segundo trimestre de 2025), mostra sinais de estabilização, especialmente nas economias avançadas. Estima-se que a demanda possa subir até 105,5 milhões de barris em 2030, apresentando uma leve queda progressiva nos anos seguintes. A mobilidade elétrica e a eficiência energética reduzem o crescimento estrutural do consumo de combustíveis fósseis.

As medidas específicas que estão sendo implementadas, além da diversificação energética, incluem os seguintes tipos de projetos:

  • Eletrificação dos processos. Substituição de turbinas a vapor por motores elétricos em grandes equipamentos como compressores e bombas de processo.
  • Captura de Carbono. Captura do CO₂ gerado nos processos de refino (principalmente em fornos) e armazenamento em formações geológicas profundas.
  • Uso de hidrogênio verde. Substituição de hidrogênio cinza (proveniente de hidrocarbonetos como o gás natural), por hidrogênio verde (gerado por energias renováveis como a solar ou eólica).
  • Redução de emissões de metano. Promover medidas para detectar e reparar vazamentos de metano nas instalações industriais. Esse gás tem um efeito estufa 30 vezes maior que o do CO₂.
  • Produção de biocombustíveis. Coprocessamento de matéria-prima fóssil com produtos orgânicos, principalmente óleos vegetais, óleos usados de origem vegetal ou restos de gorduras animais. Também começam a ser utilizados outros produtos, como biomassa ou resíduos urbanos. Isso dá lugar a produtos como o HVO (hydrotreated Vegetable Oil, óleo vegetal hidrotratado) ou o SAF (sustainable aviation fuel, combustível de aviação sustentável), termos que estão sendo cada vez mais ouvidos nos meios de comunicação. Os últimos projetos desenvolvidos já utilizam apenas produtos residuais de origem vegetal ou animal (plantas de segunda geração) como matéria-prima.

Em relação às empresas espanholas, estas estão apostando fortemente no processo de descarbonização. Entre as medidas concretas que as principais empresas estão adotando, destacam-se:

 

REPSOL

  1. Produção de biocombustíveis. Desde março de 2024 está em operação uma planta de biocombustíveis no complexo industrial de Cartagena, onde, a partir de resíduos orgânicos como óleos de cozinha usados, se produzem até 250.000 ton/ano de combustíveis renováveis (HVO e SAF). Em Tarragona está prevista a instalação de uma planta de processamento de resíduos sólidos urbanos para produzir até 240.000 ton/ano de metanol verde em 2029.
  2. Geração de hidrogênio renovável. Atualmente está em funcionamento um eletrolisador no complexo de Petronor de 2,5 MW desde 2023, e está prevista a instalação de novos eletrolisadores em seus complexos de Cartagena (100 MW para 2028) e Tarragona (150 MW para 2026).
  3. Eletrificação. Substituição de turbinas a vapor por motores elétricos, como o compressor de olefinas em Puertollano, realizado em 2023. Outros projetos semelhantes estão em andamento nas plantas de Tarragona e Sines (Portugal).
  4. Diversificação. A empresa adquiriu ativos renováveis (hidrelétrica, fotovoltaica e eólica) e tem diversos projetos nacionais e internacionais em andamento, com o objetivo de atingir entre 9 e 10 GW em 2030.

 

MOEVE

  1. Produção de biocombustíveis. Está em andamento o projeto HVO para produzir até 600.000 ton/ano de HVO e SAF a partir de óleos de cozinha usados e gorduras animais, com previsão de conclusão para o final de 2026.
  2. Geração de hidrogênio renovável. Participa do projeto Valle Andaluz del Hidrógeno Verde, no qual está previsto produzir até 2 GW de hidrogênio verde nos dois Energy Parks de Palos de la Frontera (Huelva) e San Roque (Campo de Gibraltar, Cádiz), com previsão de conclusão total em 2028.

EXOLUM

  1. Biocombustíveis. Projeto em conjunto com HOLCIM e IGNIS P2X para a produção de 100.000 ton/ano de SAF a partir de CO₂ capturado na planta da Holcim de Villanueva de la Sagra (Toledo) e hidrogênio verde.
  2. Geração de hidrogênio renovável. Produção de até 60 ton/ano de hidrogênio verde na planta H2 Henares em Madri.

 

ENAGAS

  1. Geração de hidrogênio renovável. Junto com a ACCIONA, tem em operação uma planta de geração de 2,5 MW de hidrogênio verde em Mallorca desde 2024.
  2. Armazenamento subterrâneo de hidrogênio. Dois projetos em andamento (FrHYGe e Pure H2) focados na depuração de gás armazenado em cavernas.
  3. Adaptação da rede atual de gás natural para uso com hidrogênio. Projeto GreenH2Pipes.
  4. Novas redes de hidrogênio verde. Participa do projeto H2med para criar um corredor europeu de hidrogênio.
    A indústria do petróleo na Espanha está avançando na descarbonização por meio de investimentos em energias renováveis, produção de biocombustíveis e projetos de hidrogênio verde. No futuro, espera-se uma maior integração de tecnologias limpas e uma redução significativa das emissões, alinhando-se aos objetivos de sustentabilidade e às políticas europeias de transição energética. A colaboração entre o setor público e privado será fundamental para alcançar esses objetivos. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.

 

Bernardo Legaz

 

Bernardo Legaz García
Engenheiro de Riscos / Área de Engenharia

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