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Entendendo a presença asiática na América Latina

Em 2023, celebra-se a primeira década da “Iniciativa da Faixa e da Rota”, um plano estratégico de infraestrutura global e cooperação internacional lançado neste ano pelo governo chinês, liderado por Xi Jinping. Em viagem oficial ao Cazaquistão, o próprio presidente chinês definiu esta estratégia como “faixa econômica da Rota da Seda”, fazendo referência à rede de rotas comerciais desenvolvida na Idade Média.

Como antes, o objetivo é alcançar o livre mercado, incentivando a conectividade por meio da construção de uma série de projetos de infraestrutura, comércio e cooperação cultural. Para isso, a estrutura dessa nova iniciativa é composta por dois segmentos principais:

  • A rota terrestre, que liga a China à Europa e à Ásia Central.
  • A rota marítima, denominada Rota da Seda Marítima do Século XXI, que liga o gigante asiático à América Latina, à África e ao Oriente Médio.

Esse vínculo por meio de conexões ferroviárias ou portos comerciais permitiu melhorar o acesso dos países da Ásia ao mercado global. Nós, como seguradores, percebemos isso.

Na Área da Construção, há algum tempo observamos o declínio que as construtoras locais estão vivendo na América Latina. Não é fácil competir contra o gigante asiático, que vem acompanhado não apenas de liquidez instantânea, mas também de uma potente mão de obra e uma qualidade infalível chamada Speed China.

As construtoras asiáticas contribuem com financiamento e capacidade seguradora e resseguradora na origem. Posteriormente, entram em contato com seguradoras da região se precisarem emitir apólices locais exigidas pelas administrações públicas. Apesar das dificuldades, a MAPFRE Global Risks participa de alguns dos projetos de infraestrutura realizados por construtoras asiáticas.

China fortaleceu suas relações com a região latino-americana por ela ser, essencialmente, produtora de matérias-primas. A China entrou integralmente na região por meio do comércio, do financiamento necessário pelo Banco de Desenvolvimento da China e da infraestrutura.

Esta última parte é fundamental, pois construir na América Latina facilita o fluxo de entrada e saída de materiais, minerais como ouro, cobre e zinco ou qualquer outro tipo de mercadoria. Os países-alvo da marca asiática são Argentina, Brasil e Peru, mas também Chile e Uruguai.

Em 2021, a presença das empreiteiras espanholas no mercado foi surpreendentemente baixa, conforme refletido no relatório da Engineering News Record publicado em agosto de 2022, pois 40% consistia na soma das empresas chinesas, coreanas e japonesas (102), seguida pelas europeias (42), turcas (42) e americanas (41). Se olharmos para a América Latina, observamos que a presença de empresas chinesas na região superou em quase cinco pontos percentuais a presença espanhola e manteve-se três pontos abaixo da americana.

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No campo financeiro, o Banco de Desenvolvimento da China posicionou-se entre as principais fontes de financiamento da região, principalmente na Venezuela, Brasil, Equador e Argentina. Sabe-se que entre 2005 e 2020 o banco emprestou mais de 137 bilhões. Especificamente, o caso do Equador foi muito famoso, pois a China assumiu a dívida do país em troca da concessão de petróleo e a inclusão de empresas chinesas na economia equatoriana. De acordo com dados do Diálogo Interamericano, o comércio total entre a China e a América Latina e o Caribe aumentou de quase US$ 18 bilhões em 2002 para US$ 318 bilhões em 2020. No mesmo ano, as importações chinesas da região totalizaram 168 bilhões, enquanto as exportações totalizaram 150 bilhões.

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Abaixo está um gráfico de barras elaborado pela Statista, refletindo o capital social dos investimentos diretos estrangeiros chineses em 2021, por continente e em milhões de dólares americanos, mostrando a esmagadora diferença entre a Ásia e o resto do mundo.

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Realisticamente, também começamos a ver as consequências de construir com rapidez e economizar materiais: trechos apagados do mapa devido ao período chuvoso ou placas ilegíveis muito tempo após a obra, como menciona Renan Torrico, um engenheiro boliviano que trabalhou na construção da hidrelétrica de San José, na Bolívia, fazendo estudos topográficos. “É importante mencionar que as obras que construíram aqui são de má qualidade e de pouca durabilidade.”

Parafraseando as consequências do trabalho realizado por Laura Bogado Bordazar e Juan Cruz Margueliche, “A América Latina não pode ser imaginada em uma relação simétrica com a China, porque estamos falando de uma potência mundial, e seria um erro estratégico diagnosticá-la mal neste sentido. O modelo de relacionamento deve ter como base a cooperação e o conceito de globalização inclusiva e sustentável. É neste sentido que a diplomacia, em todas as suas manifestações, deve defender não só o fortalecimento das relações, mas a construção de pontes de entendimento mútuo que permitam conhecer os interesses e necessidades da China, bem como as urgências e projetos que beneficiem a América Latina e Caribe, seus territórios e economias.”

Por fim, não são poucos os especialistas que veem uma estratégia cozida em fogo baixo, uma espécie de Plano Marshall chinês, em que a China aumenta sua influência e dívida onde atua com projetos de infraestrutura, já que muitos são países com pouca capacidade de pagar seus empréstimos ou terminar os projetos de longo prazo. Seja como for, não há dúvida de que a China vive aplicando provérbios antigos como este: “Se você quer se tornar rico, primeiro construa um caminho”, e não há nada errado com ele.

 

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Zaida Fernández Ruiz

Gerente de Subscrição. Energia e Construção – Construção – MAPFRE Global Risks

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