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Financiamento: o grande desafio para a aviação sustentável

Os principais atores do setor de Aviação reuniram-se em Madri, convocados pela IATA. O objetivo: conhecer suas perspectivas para alcançar o desafio da sustentabilidade definido pelo Acordo de Paris. O financiamento no centro das atenções.

Nos dias 3 e 4 de outubro de 2023, o Marriott Auditorium Hotel & Conference Center (em Madri) acolheu o primeiro encontro mundial sobre sustentabilidade (WSS) organizado pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). O evento contou com mais de 500 profissionais que fazem parte do setor de aviação: companhias aéreas, empresas reguladoras, fabricantes, setor petrolífero, entidades financeiras, seguradoras, entre outros. Todos os participantes têm algo a dizer sobre este grande desafio definido nos Acordos de Paris, com prazo em 2050.

Nosso colega Héctor Gallegos Juez, especialista em subscrição da área de Aviação e Espaço foi um dos assistentes representando a MAPFRE Global Risks, pois pertencemos à União Internacional de Seguradoras de Aviação (IUAI). “Na Europa, isso se baseia na Flight Net Zero, uma aliança de companhias aéreas que exige que todas as emissões de dióxido de carbono (CO2) sejam compensadas até 2050.”

Este é um objetivo muito ambicioso, tanto que as companhias aéreas não têm certeza de como efetivá-lo. “O grande desafio do setor de aviação é o financiamento: por um lado, foi traçado um caminho para ir empregando alguns combustíveis, mas o problema é que esses combustíveis não existem ou são muito caros.”

Três caminhos para alcançar o objetivo

Esta situação é de importância direta para o setor petrolífero que fabrica querosene para aviação, as agências reguladoras, as entidades financeiras, os aeroportos e até mesmo passageiros. Héctor detalha os três caminhos considerados para atingir o objetivo:

1. “O uso de aeronaves com melhor tecnologia. Isso já está sendo feito. As principais companhias aéreas estão substituindo seus aviões antigos por modelos mais novos. Estou falando dos modelos A350, B787, do próximo B777X, 320Neo, 737Max… Esses aviões são mais leves, seus motores são mais eficientes e contaminam muito menos, mas ainda é preciso avançar mais para atingir os objetivos tão ambiciosos definidos no Acordo de Paris.”

Nesse sentido, o especialista prevê que os aviões elétricos não estarão implementados antes de 2050. Então, é preciso seguir outros caminhos.

2. O Programa CORSIA: “É baseado em compensação, ou seja, mantém a mesma poluição, mas os direitos de emissão são comprados. Isso significa investir em reflorestamento, por exemplo, uma vez que a vegetação capta o dióxido de carbono e o reduz.” Este Programa depende da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), que obriga as companhias aéreas a investir neste tipo de projetos para compensar suas emissões. “Claro que a ideia é que haja cada vez menos poluição, para que as companhias aéreas tenham de pagar menos”, ele esclarece.

3. O uso de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF). “Em vez de recorrer ao querosene, um combustível fóssil com um processo de refinação de alta poluição, a intenção é usar biocombustíveis provenientes de plantas e resíduos.”

Para produzir esse tipo de biocombustível, é preciso ter grandes plantações que servirão de matéria-prima. “Essas grandes plantações capturam CO2, o que vai compensar a queima de combustível da aeronave no futuro.” O mesmo acontece com a reutilização de resíduos, uma vez que a utilização de óleos usados impede que se queimem.

Um círculo vicioso

A União Europeia e os Estados Unidos estabeleceram uma transição energética na qual os aviões, a partir de 2025, devem incorporar os biocombustíveis, gradativamente. Em 2050, a maior parte do combustível deve ser bio. “Qual é o problema? Hoje em dia, existe a tecnologia, mas não há disponibilidade porque os investimentos do setor petrolífero para produzir estes biocombustíveis são muito altos, exigindo financiamento. Esse é o grande desafio que o setor de aviação comercial está enfrentando.” Portanto, a lei da oferta e da procura entra em jogo: a escassez faz com que seja muito caro e isso afeta o preço das passagens aéreas. “Se todas essas mudanças forem implementadas, o preço subirá e os passageiros terão que bancar o aumento. Talvez nos Estados Unidos e na Europa estejamos dispostos a pagar mais, mas na América Latina e Ásia, o conceito é diferente. A situação é complexa.”

De acordo com os relatórios apresentados no simpósio, o combustível sustentável pode ser quatro vezes mais caro do que o combustível tradicional. “O combustível é a maior despesas das companhias aéreas. Se multiplicarmos esta despesa por quatro, a margem operacional é exorbitante. Por isso este encontro foi organizado: pela preocupação das companhias aéreas com a obtenção de financiamento e para que o setor petrolífero disponibilize combustível suficiente a preços razoáveis.

O papel dos fabricantes de querosene nesta situação é relevante, pois “o setor do petróleo não vai investir em nova tecnologia se não puder receber um novo retorno. E esse é o grande desafio”, aponta Héctor. “A prova disso é que, na aviação comercial, esta preocupação é mais grave do que a problemática que surgiu com a Covid, que reduziu sua atividade durante quase dois anos”.

Mudar ou morrer

O setor de aviação é obrigado a cumprir alguns compromissos e, embora, hoje em dia, os recursos não estejam disponíveis para realizá-los, deve investir gradualmente em mudanças para evitar efeitos desastrosos nas companhias aéreas.

Os regulamentos foram determinados nos Estados Unidos e na Europa, nos quais também se aplicam, obrigando as companhias aéreas que voam para tais zonas a se adaptarem aos regulamentos definidos pela OACI. Desse modo, as empresas da América Latina e da Ásia que desejam voar para territórios com regulamentações rígidas verão a sua atividade limitada se não conseguirem se adaptar.

Apesar das revisões de consumo e abastecimento, segundo o especialista, é provável que o período de transição energética seja alterado. O setor de aviação tem consciência de que os objetivos são muito ambiciosos, mas também considera que a descarbonização não seja mais uma utopia para um planeta mais sustentável.

 

Héctor Gallegos Juez

Especialista em Subscrição de Riscos Globais de Aviação e Transportes – Aviação e Espaço da MAPFRE Global Risks.

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