Como ocorre a cada dois anos, este congresso internacional foi um espaço de debate para todos os profissionais que atuam na proteção contra incêndio a partir de diferentes âmbitos: pesquisa e formação, consultoria e engenharia, autoridades e órgãos de controle, fabricantes, instaladores e responsáveis pela manutenção de sistemas, gestores de infraestruturas, indústrias e serviços, cadeia de suprimentos e setor segurador.
O lema do congresso foi “O risco de incêndio no contexto social e de sustentabilidade “.
As jornadas começaram com uma reflexão e autocrítica. Acontecimentos ocorridos nos últimos anos como o incêndio da Torre de Grenfell em Londres tornaram relevante a necessidade de reforçar a responsabilidade que recai sobre os profissionais e melhorar a formação de técnicos competentes.
Um dos temas abordados foi a proteção das pessoas vulneráveis. Atualmente, esta proteção transcende o campo meramente técnico dos profissionais e é tratada como um direito social. Refletiu-se sobre o fato de que a vulnerabilidade tem múltiplas dimensões, algumas mais evidentes (como idosos, pessoas com deficiência, grupos em risco de exclusão social etc.) e outras nem tanto. Nenhum de nós está isento de se tornar vulnerável ao longo da vida. Falou-se da vulnerabilidade progressiva.
Por isso, durante o congresso enfatizou-se a importância da conscientização, informação e formação. Sem informação, não é possível abordar a segurança contra incêndios de forma multidimensional. A formação dos profissionais de resposta e dos próprios usuários deve ser uma prioridade máxima.
Foram compartilhadas experiências internacionais na reconstrução de infraestruturas sociais, escolas e hospitais, após fenômenos catastróficos naturais. Considerar boas práticas internacionais de proteção contra incêndio na reconstrução contribui para melhorar a resiliência das comunidades locais diante de fenômenos catastróficos. O congresso concluiu, neste sentido, que estabelecer uma boa cooperação internacional funciona como um grande catalisador neste processo. É imperativo revisar constantemente os planos de ação e não ficar na mera aplicação de normativas obsoletas.
Técnicos da administração pública compartilharam experiências interessantes no campo da gestão de eventos de massa e na intervenção dos bombeiros em estabelecimentos industriais.
A evolução das condições ambientais causada pela mudança climática afeta a segurança contra incêndio de todos, sendo o incêndio florestal o perigo mais evidente. Os incêndios florestais ameaçam nossas edificações, especialmente as moradias na interface urbano-florestal. Foram compartilhadas metodologias de análise de riscos para analisar a vulnerabilidade neste novo cenário com um enfoque multidisciplinar.
Um tema central do congresso foi o enfrentamento dos desafios que as políticas de sustentabilidade impõem à proteção contra incêndio. Uma discussão muito relevante girou em torno da “competição” entre os objetivos de sustentabilidade e os de segurança.
Esse desafio foi abordado em três sessões: uma sobre geração e armazenamento de energia, outra sobre o ambiente construído urbano e a interface urbano-florestal, e a terceira sobre economia circular.
Observou-se o surgimento de riscos provenientes de novas práticas e usos impulsionados pela transição energética, novas fontes de geração e armazenamento de energia em edifícios, infraestruturas e transporte. Os ensaios e testes para conhecer melhor estes perigos e o risco que representam são cruciais para saber como mitigá-lo.
Foi abordado o risco de incêndio que novas tendências sustentáveis apresentam nos ambientes urbano, rural e sua interface. Foram objeto de análise o risco de incêndio das baterias de íon lítio de veículos elétricos, o uso crescente da madeira na edificação e a intervenção dos bombeiros em incêndios florestais na interface entre ambos os âmbitos.
Por último, foi abordada a segurança contra incêndio na economia circular, com propostas para a proteção de estações de tratamento de resíduos urbanos, o tratamento de baterias de íon lítio no final de sua vida útil e a recuperação de bens danificados pelo fogo e pela água. A reciclagem de produtos da construção e sua caracterização para seu novo uso quanto às suas prestações de reação e resistência ao fogo também foram objeto de reflexão.
Fabricantes e instaladores apresentaram novidades no setor, e gestores de infraestruturas de transporte e representantes do setor segurador deram sua visão.
O XII Congresso Internacional de Proteção contra Incêndio da APICI demonstrou ser uma plataforma essencial para o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre profissionais do setor.
As discussões e reflexões tratadas durante o evento destacaram a importância da prevenção e da cooperação internacional. A integração de novas metodologias e a conscientização sobre os riscos emergentes são passos cruciais para uma proteção mais efetiva e multidimensional.
