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Túneis: infraestruturas invisíveis que movem o mundo

Cristina Leon Vera | 19/12/2025

Quando pensamos em grandes obras de engenharia, costumamos imaginar pontes colossais, rodovias intermináveis ou represas monumentais. No entanto, há infraestruturas que, embora ocultas sob a terra, são igualmente essenciais para o funcionamento de nossas cidades e territórios: os túneis.

Essas estruturas subterrâneas permitem conectar regiões, transportar água, gerar energia e facilitam a vida moderna de milhões de pessoas. Sua construção, longe de ser simples, implica uma combinação de ciência, tecnologia e experiência acumulada durante séculos.

 

Por que os túneis são tão importantes?

Os túneis cumprem funções essenciais em três grandes áreas: transporte, gestão da água e produção de energia.

1. Transporte

Em áreas montanhosas, urbanas ou costeiras, os túneis permitem atravessar obstáculos naturais ou artificiais sem alterar o ambiente em superfície. Graças a eles, os trens de alta velocidade podem manter trajetórias retas, as rodovias evitam desvios e os metrôs urbanos conectam bairros sem congestionar as ruas.

2. Água

Os túneis hidráulicos são fundamentais para transportar água de áreas de captação até áreas de consumo.

Também são utilizados para saneamento, permitindo evacuar águas residuais de forma segura e eficiente, especialmente em grandes cidades.

3. Energia

No âmbito energético, os túneis são essenciais em centrais hidrelétricas, onde canalizam a água para as turbinas. Também são empregados em projetos de armazenamento de energia, como sistemas de bombeamento reversível, e em instalações geotérmicas.

 

A evolução dos métodos construtivos: dos métodos manuais às tuneladoras

O primeiro registro de uma escavação subterrânea realizada pelo ser humano data da atual Esuatíni, no sul da África, onde o homem de Neandertal extraiu hematita para rituais, utilizando ferramentas rudimentares, como pedras afiadas.

Desde a Antiguidade, encontramos exemplos notáveis de engenharia subterrânea: o Túnel da Babilônia (aprox. 2200 a.C.), os qanats persas (século X a.C.), o Túnel de Eupalinos, na Grécia (530 a.C.), e numerosos túneis construídos durante o Império Romano, entre o século I a.C. e o século IV d.C.

Construir um túnel é sempre um desafio de engenharia. Requer conhecer o terreno, projetar a sustentação adequada e aplicar técnicas que garantam a segurança dos trabalhadores e do ambiente.

Antigamente, os túneis eram escavados manualmente, com ferramentas básicas, exigindo enorme esforço humano e envolvendo muitos riscos, que frequentemente resultavam em perdas de vidas humanas.

Com o tempo, surgiram métodos como o NATM (Método Austríaco de Construção de Túneis), que aproveita a resistência natural do terreno para estabilizar o túnel, em vez de depender de estruturas pesadas desde o início. O método baseia-se na escavação por etapas e na aplicação rápida de um suporte primário leve – como concreto projetado, tirantes e malha metálica – enquanto se monitoram deformações e tensões para adaptar o projeto em tempo real. Essa abordagem flexível reduz custos e melhora a segurança, pois transforma o próprio terreno em parte do sistema de suporte, posteriormente complementado por um revestimento definitivo.

O outro grande avanço na construção de túneis vem da mecanização de sua execução com tuneladoras TBM (Tunnel Boring Machines).

As TBMs são equipamentos projetados para escavar túneis de maneira contínua e segura. Seu funcionamento baseia-se em uma grande cabeça giratória equipada com discos de corte que, ao combinar rotação e empuxo, fragmentam o maciço rochoso na frente de escavação. O aspecto mais relevante é que essas máquinas não apenas perfuram, mas também integram sistemas auxiliares que permitem instalar o suporte provisório – como anéis de aduelas – e até mesmo o revestimento definitivo à medida que avançam. Graças a essa automatização, obtém-se um processo mais rápido, estável e seguro, reduzindo riscos e otimizando prazos em comparação com métodos tradicionais.

Embora a primeira TBM que se aproxima da definição atual tenha sido projetada por Charles Wilson em 1851, o grande avanço no desenvolvimento e na aplicação dessa tecnologia ocorreu na década de 1950, com James S. Robbins, que desenvolveu um modelo para o projeto da Barragem de Ohade. A máquina chegou a escavar 49 metros em 24 horas, um verdadeiro marco. Atualmente, os tipos de TBM se adaptam às características do terreno, existindo modelos específicos para rocha, solos de natureza granular ou coesiva, presença de nível freático ou condições mistas.

Embora existam outras metodologias, hoje em dia a maioria dos túneis são executados ou através do Método Austríaco ou através de Tuneladoras (TBM) quando o comprimento e o valor do projeto justificam seu uso.

 

Aspectos-chave na análise desses projetos:

Na MAPFRE Global Risks, ao avaliar os riscos de projetos de túneis, consideramos os seguintes aspectos:

1. Geologia e geotecnia do terreno: em túneis , a interação terreno-estrutura é o aspecto central. Por isso, um bom estudo geotécnico, com campanha adequada e correta interpretação prévia do contexto geológico, é essencial. Terrenos heterogêneos ou complexos, presença de falhas e altas pressões de água devem ser previstos no projeto, exigindo uma campanha geotécnica robusta.

2. Experiência da equipe: Diferentemente de outros projetos de construção, nos quais é possível definir completamente o projeto antes do início da obra, nos túneis as próprias condições do terreno – que muitas vezes diferem das previsões iniciais devido a campanhas geotécnicas insuficientes e à impossibilidade de investigar toda a extensão do traçado – precisam ser analisadas pelos projetistas. Esses profissionais devem realizar ajustes significativos em cada trecho do túnel para suportar os esforços induzidos pelo terreno. Assim, a experiência dos projetistas na interpretação das condições geológicas torna-se um fator crítico.
A equipe da construtora, por sua vez, também deve contar com ampla experiência em obras subterrâneas. Essas equipes de engenheiros são multidisciplinares, incluindo geólogos, topógrafos e técnicos de prevenção.

3. Monitoramento e Auscultação: Os trabalhos do túnel e o entorno devem ser monitorados continuamente. Isso é feito por meio de instrumentos que detectam deformações, deslocamentos, infiltrações ou vibrações. O acompanhamento é fundamental para confirmar se o terreno e o ambiente estão se comportando conforme as estimativas iniciais. Caso contrário, e se algum limite for ultrapassado, devem ser adotadas medidas de reforço para garantir a segurança e a estabilidade do túnel e do entorno.

 

Conclusões

Os túneis são infraestruturas críticas que, embora invisíveis, sustentam grande parte do desenvolvimento moderno ao facilitar o transporte, a gestão hídrica e a geração de energia. Sua construção envolve desafios técnicos complexos, que exigem profundo conhecimento geológico, métodos construtivos avançados, equipes de projeto e execução experientes e um monitoramento rigoroso para garantir segurança e eficiência.

A evolução, desde escavações manuais até o uso de tuneladoras e técnicas como o NATM, demonstra como a engenharia soube se adaptar para otimizar custos e reduzir riscos. Ainda assim, não se deve perder a perspectiva nem negligenciar nenhum de seus aspectos essenciais, pois sinistros em túneis, infelizmente, podem resultar em perdas humanas e em prejuízos econômicos significativos.

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