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Contaminación

A poluição: um risco extremo e subestimado

É abordado como consequência da sociedade atual, mas a poluição é, além disso, um dos riscos mais preocupantes para o futuro da humanidade. Afeta não apenas o meio ambiente, mas também a saúde humana, o desenvolvimento econômico e as populações mais vulneráveis.

Esta é uma das principais conclusões que podem ser extraídas do Global Risk Report 2025, um relatório que o Fórum Econômico Mundial publica anualmente e no qual são explorados os riscos mais graves enfrentados atualmente, reunindo perspectivas de mais de 1.200 especialistas de diferentes âmbitos econômicos e sociais do mundo inteiro. Nele, a poluição conseguiu se classificar entre os dez riscos mais graves dos próximos dez anos. A perspectiva geracional é chamativa: os participantes menores de 30 anos a colocam como o terceiro risco mais preocupante.

O ponto de partida não é promissor: somente em 2024, foram superados seis dos nove limites principais estabelecidos em 2009 pelo Centro de Resiliência de Estocolmo, limites que não deveriam ser sobrepassados para manter a estabilidade da Terra, tanto no plano meio ambiental como no econômico e no social. O relatório adverte que os padrões insustentáveis de produção e consumo estão impulsionando a mudança climática, a poluição e a perda de biodiversidade. A Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CQNUCC) refere-se a eles como a Tripla Crise Planetária. Neste cenário, a poluição é apresentada como o maior risco ambiental, que provoca doenças e mortes prematuras no mundo, e seu impacto é especialmente devastador em economias de rendas baixas e médias.

 

Poluentes atmosféricos: uma ameaça letal

As partículas que poluem o ar representam uma séria ameaça para a saúde humana, e especialmente para a população vulnerável (idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas). Além deste impacto direto na saúde e dos custos que acarreta, a poluição reduz significativamente a produtividade no trabalho devido ao aumento dos dias de doença, o que gera perdas econômicas. Este problema é global, mas também desigual: os países com rendas baixas e médias estão expostos a níveis de poluição muito mais altos e, consequentemente, muito mais expostos a esses perigos.

Dentro do conjunto de emissões que alteram a qualidade do ar, existem os conhecidos como “superpoluentes”, ou poluentes de vida curta (SLCP por sua sigla em inglês), que permanecem na atmosfera durante um tempo relativamente curto – em comparação com os gases de efeito estufa – mas que têm um impacto proporcional muito maior. Os principais SLCP são o carbono negro, o metano, os hidrofluorocarbonos (HFCs) e o ozônio troposférico. Juntos, são responsáveis por até 45% do aquecimento global a curto prazo.

O carbono negro, mais conhecido como fuligem, pode viajar milhares de quilômetros e penetrar na corrente sanguínea através da respiração, transportando compostos tóxicos por todo o corpo. Além disso, a nível ambiental contribui para acelerar o derretimento do gelo em regiões polares, altera os padrões de chuva e reduz a luz solar disponível para as plantas, contribuindo para perdas imensas nas colheitas. Outro superpoluente importante é o metano, um gás cujas principais fontes de emissão são a extração de combustíveis fósseis, a agricultura e a gestão de resíduos. Embora sua permanência na atmosfera seja relativamente curta – cerca de 12 anos -, seu impacto climático é imediato, e tem um potencial de aquecimento 80 vezes maior que o CO2.

 

Químicos e plásticos: inimigos da água

A poluição da água se tornou uma preocupação crescente e complexa, já que representa riscos significativos para a saúde pública e os ecossistemas. Alguns dos compostos mais preocupantes são os conhecidos “químicos permanentes” ou PFA, que são encontrados em muitos produtos de uso cotidiano como a roupa, os utensílios de cozinha antiaderentes e os produtos de limpeza. Sua toxicidade está relacionada com problemas de fertilidade, câncer e enfraquecimento do sistema imunológico.

Outro grande inimigo da água é o plástico. O mundo produz mais de 430 milhões de toneladas deste material por ano, e 19 milhões de toneladas acabam chegando ao meio ambiente. O plástico não se degrada, e a OMS vem alertando há anos sobre sua presença no meio natural, incluindo a água. Também foi detectado no corpo humano e no ar, e os produtos químicos presentes nele são liberados ao longo do seu ciclo de vida, com mais de 13.000 substâncias nocivas identificadas.

Finalmente, os produtos farmacêuticos entraram na categoria de poluentes de preocupação emergente, juntamente com os produtos de cuidado pessoal, protetores solares e detergentes. Embora sua presença tenha sido detectada durante anos, agora seu alcance está sendo realmente avaliado, e uma regulamentação está sendo planejada. Em particular, o despejo de antimicrobianos nas massas de água está contribuindo para a resistência a medicamentos tanto em humanos como em animais. Em resposta a isso, em 2024 a OMS publicou diretrizes específicas com o objetivo de melhorar as práticas e regulamentações da produção farmacêutica.

 

A degradação progressiva do solo

A poluição do solo é causada principalmente pela prática de uma agricultura intensiva e uma gestão ineficiente dos resíduos industriais. O uso de fertilizantes nitrogenados para aumentar a produtividade agrícola deu lugar a uma contaminação significativa da terra, que acaba penetrando nas águas subterrâneas, tornando-se um problema de saúde. Isto é importante porque os elevados níveis de nitrato na água potável podem causar problemas graves na saúde humana.

A gestão dos resíduos, tanto industriais como urbanos, também está causando sérios problemas de saúde. O relatório dá como exemplo a exposição a resíduos eletrônicos inadequadamente tratados, já que seus componentes podem liberar partículas químicas com efeitos adversos para a saúde. Se não forem tomadas medidas urgentes a esse respeito, seu impacto ambiental, sanitário e econômico será cada vez mais difícil de reverter.

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