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Inteligência Artificial: ruptura e desafio para a aviação

Cristina Leon Vera | 20/06/2024

A onda tecnológica iniciada pela Inteligência Artificial atingiu a aviação e está sendo particularmente definidora na gestão do tráfego aéreo. Analisamos as principais linhas de investigação, desenvolvimento e implementação que estão em andamento na Europa.

A Inteligência Artificial (IA) tem a possibilidade de melhorar e otimizar as tecnologias vigentes na indústria, além de resolver problemas complexos em âmbitos como o planejamento de rotas, a gestão da tripulação ou a segurança dos passageiros.

Para abordar o impacto e o potencial desta revolução, conversamos com Javier Alberto Pérez Castán, um renomado acadêmico da ETSIAE (Escola Técnica Superior de Engenharia Aeronáutica e do Espaço) da Universidade Politécnica de Madri.

Integração no tráfego aéreo europeu

A fim de organizar e concentrar os esforços na gestão do tráfego aéreo, os avanços na implementação da IA na Europa estão sendo liderados pela SESAR, uma associação institucionalizada com participação pública e privada que acelera a adoção de tecnologias de ponta em aviões, drones e outros veículos voadores.

De acordo com o especialista, a pesquisa alcançou níveis muito interessantes e sucessos práticos em muitas delas:

  • Gestão do tráfego aéreo. Com ferramentas que permitem melhorar desde o planejamento dos voos até sua operação real, com a previsão das trajetórias, condições meteorológicas ou melhoria do posicionamento GNSS (Global Navigation Satellite Systems).
  • Inovações no setor aeroportuário. Implantada há anos, a IA é usada no setor de segurança, como reconhecimento facial de passageiros e inspeção automatizada de bagagens. Também é usada para identificação remota de aeronaves.
  • Torres de controle e técnicas de reconhecimento. Implementação de tecnologias avançadas de voz e imagem para auxiliar tanto os controladores aéreos quanto os pilotos.
  • Desenvolvimento de agentes inteligentes. Seu objetivo é auxiliar o operador humano na realização de tarefas e na tomada de decisões para poder aumentar o número de aeronaves que podem ser gerenciadas com segurança.

Prevenção de riscos durante o voo

Conforme afirma o especialista Pérez Castán, “uma das finalidades da IA é a capacidade de prever situações futuras aprendendo com eventos passados”, o que a torna uma ferramenta fundamental para conseguir “identificar, analisar, quantificar e mitigar os perigos que possam aparecer”. Neste contexto, destacam-se três elementos de mudança que estão favorecendo esta integração tecnológica:

  • Certificação e validação de sistemas. Autoridades como a Agência Europeia de Segurança da Aviação (EASA) estão desenvolvendo regulamentações e diretrizes para certificar ferramentas, sistemas e processos que incorporem o uso da IA na aviação.
  • Ferramentas preditivas para eventos raros. Como exemplo, existem sistemas que preveem perdas de separação entre aeronaves, a probabilidade de incursões ou excursões de aeronaves em pista ou a necessidade de aterrissagens frustradas com base em variáveis como o clima.
  • Redução do fator humano. A automação de tarefas e o desenvolvimento de assistentes virtuais para operadores de serviços de tráfego aéreo, controladores aéreos e pilotos representam uma grande oportunidade para reduzir a carga de trabalho, aumentar a capacidade aérea e evitar erros.

“Atualmente, pode-se dizer que esta tecnologia está em fase inicial de aplicação, já que foi identificada e demonstrada que pode melhorar os resultados de técnicas ou modelos atuais. No entanto, o principal problema ou barreira que ainda deve superar é a confiança no seu uso em um setor tão crítico como o da aviação”, adverte.

Principais desafios do setor

Além da insegurança, que às vezes produz a magnitude desta inovação, um dos principais desafios é criar um marco regulatório adequado. “Nesta linha, a União Europeia e a EASA estão sendo pioneiras. Do meu ponto de vista, a principal dificuldade que enfrentam é que a regulamentação não seja rígida, e que permita e favoreça a investigação”, assegura Pérez Castán.

Também é um desafio provar que sua aplicação é segura, especialmente quando feita em um dos meios de transporte mais regulamentados do mundo. “Para isso, deve-se considerar a introdução gradual deste tipo de tecnologia, adaptando os processos e as barreiras de segurança para reafirmar a confiança na tecnologia”, acrescenta.

Pérez Castán lembra que o impacto da IA no setor pode ser muito positivo, especialmente em objetivos comunitários relacionados à sustentabilidade e ao meio ambiente. “Uma melhor previsão significa uma melhor organização e sincronização do tráfego, permitindo voar rotas mais diretas e eficientes, bem como reduzir os atrasos”, conclui.

Colaborou neste artigo:

Javier Alberto Pérez Castán

Javier Alberto Pérez Castán, professor na Universidade Politécnica de Madri, é diplomado em Engenharia Aeronáutica, incluindo um Doutorado com menção internacional.

Sua pesquisa concentra-se no desenvolvimento de ferramentas inovadoras baseadas em Inteligência Artificial, com o objetivo de melhorar a eficiência e segurança da indústria aeronáutica. Pérez Castán participou de diversos projetos de pesquisa em escala nacional e internacional, contribuindo significativamente para o avanço e desenvolvimento da gestão do tráfego aéreo.

 

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