Home > Revista Gerência de Riscos e Seguros > Estudos > Conformidade regulatória: um fator estratégico para a sustentabilidade
Cumplimiento Normativo

Conformidade regulatória: um fator estratégico para a sustentabilidade

Cristina Leon Vera | 22/04/2025

A conformidade regulatória se tornou um elemento fundamental em qualquer estratégia empresarial, especialmente para as entidades financeiras. Analisamos a evolução legislativa e os compromissos sustentáveis aos quais está atualmente sujeita.

Para abordar este novo cenário regulatório, bem como os desafios e oportunidades que oferece às empresas, contamos com Sonia Lecina, que assumiu em 1º de janeiro a Diretoria de Regulação e Governança da ÁREA XXI. “A conformidade, ou Compliance, evoluiu significativamente nas últimas décadas, impulsionada pela globalização, pelo aumento de empresas internacionalizadas e pela crescente complexidade da regulamentação”, afirma. No caso da Espanha, em particular, a reforma legislativa penal de 2010 representou um marco transcendental, pois incluiu a possibilidade de imputação às pessoas jurídicas.

De ser uma área quase simbólica, o Compliance se tornou essencial para evitar sanções e responsabilidades empresariais. Aplicado às seguradoras e resseguradoras, é uma função crucial desde a entrada em vigor da regulamentação europeia de Solvência II em 2016, sendo uma condição necessária para desempenhar suas atividades. Embora tenha surgido como um mecanismo reativo, com o objetivo de evitar multas ou sanções, está evoluindo para uma abordagem mais proativa, integrada à filosofia de qualquer organização. “A conformidade não deve se limitar a evitar sanções legais, mas tornar-se um elemento da estratégia empresarial”, enfatiza Lecina

 

Compliance e sustentabilidade

Os compromissos ESG (ambientais, sociais e de governança) fizeram com que, além das leis externas que afetam qualquer setor, existam também regulamentações internas alinhadas com os valores e a estratégia de cada entidade. Nesse objetivo pela sustentabilidade e pela responsabilidade social, as empresas refletem seus compromissos e valores: “É uma forma efetiva de reforçar a confiança dos funcionários e colaboradores, permitindo integrar a conformidade de forma mais coerente dentro do modelo de negócio”, afirma.

A formação contínua e a conscientização das equipes são a base para um programa de conformidade: “Nenhum funcionário entenderá por que deve aplicar continuamente controles e armazenar evidências se não receber o treinamento adequado para isso. Sua atuação é fundamental para alcançar uma segurança razoável. As atividades de treinamento incentivam um comportamento de responsabilidade, fazendo com que enxerguem a área Compliance e as auditorias internas como aliadas, e não como inimigas”, explica a especialista. Ela ressalta ainda que “uma gestão de conformidade bem-sucedida exige cultura, engajamento das pessoas, análise prévia, investimento em recursos de todo tipo e muita colaboração interdepartamental”.

 

A complexa legislação global

Em um ambiente de globalização e transformação digital, a adoção das regulamentações locais e internacionais se tornou mais desafiadora: “No setor financeiro europeu, assim como no mercado de seguros, as empresas com presença em vários países lidam com legislações europeias harmonizadas, mas cuja transposição nem sempre é uniforme, gerando fricções normativas. Além disso, as práticas de supervisão das autoridades não são convergentes”, aponta Lecina. Nessa gestão de uma conformidade global, o uso da tecnologia e do controle automatizado é indispensável.

Esse contexto obriga as entidades a serem mais diligentes e realizar planejamentos com meses de antecedência, pois os riscos associados à conformidade são cada vez maiores. Se a entidade opera em grande escala e em vários territórios, Sonia Lecina considera fundamental a criação de estruturas supranacionais, onde as equipes tenham autoridade local e independência em cada região, e dependência funcional com a área de Compliance da matriz do grupo: “No setor financeiro, existe uma hiper-regulamentação que afeta a proteção de dados dos clientes, a sustentabilidade, a prevenção de lavagem de dinheiro… todos eles têm implicações legais importantes”, e acrescenta: “Tradicionalmente, as empresas costumavam medir o risco legal com base no montante das sanções. Agora, os riscos éticos e reputacionais ganharam destaque, e a publicação de uma advertência pública tem maior repercussão. A ética empresarial é chave em uma época em que clientes e prestadores exigem transparência nas atividades e confiança”.

 

Novas vulnerabilidades, grandes desafios

A cibersegurança, o impacto ambiental, os critérios ESG… A cada dia surgem mais regulamentações nacionais e internacionais que mantêm os profissionais da conformidade em constante alerta. “Ainda há um longo caminho a percorrer, pois não são legislações fáceis. A cibersegurança é um problema mundial e o setor financeiro é um dos mais vulneráveis. Os bancos e as seguradoras de nosso país estão sentindo o impacto. Todos estão expostos, e é preciso estar ciente de que ser uma seguradora pequena não o isenta de um ataque. Assim como qualquer risco, apenas podemos mitigá-lo com antecedência, investimento em tecnologia e governança”, destaca Lecina.

Essas mesmas normas também servem como guia para a implementação de controles mais adequados, observando que não existem brechas que facilitem a ação de criminosos. Os compromissos ESG estão sendo integrados com sucesso nos planos de negócio, com investimentos mais sustentáveis e o cuidado dos funcionários. No entanto, os desafios enfrentados pelas áreas de Compliance são determinantes e além da revolução regulatória. Para Lecina, o primeiro desafio é conquistar mais apoio da diretoria. Ela acredita que ainda falta um entendimento sobre as vantagens da conformidade e seu reflexo no crescimento corporativo: “Não costuma ser utilizada como ferramenta nos processos de tomada de decisões estratégicas nem de negócio, e não deveria ser visto como um custo, mas sim como um investimento”. O segundo grande desafio é procurar aliados nas áreas de negócio, que não podem continuar sendo “nem ovelhas negras” nem “patinhos feios”: “No passado, essa resistência era dirigida aos auditores, e agora os obstáculos se voltam para as equipes de Compliance. Mas o cumprimento das normas só pode ser alcançado com a colaboração de todos”, conclui.

 

Este artigo teve a colaboração de…

Sonia LecinaSonia Lecina é formada em Direito pela Universidade de Barcelona e possui um Mestrado em Direção Pública. Professora habitual em cursos e mestrados do setor, desde 2003 tem representado a Espanha como assessora e especialista nacional em diferentes projetos de apoio a supervisores na Europa e na América Latina.

Na DGSFP, ela foi responsável pelo Departamento de Reclamações, pelo Departamento Legal e inspetor-chefe de unidade na Subdiretoria de Inspeção e responsável pela Unidade de PBCFT. Em 2018, foi transferida para o SEPBLAC como inspetora-chefe em tarefas de supervisão do setor financeiro, onde esteve até dezembro de 2024.

Em 1º de janeiro, assumiu a Diretoria de Regulação e Governança da AREA XXI. Seu objetivo no posto é acrescentar valor aos projetos desenvolvidos pela empresa e o desenvolvimento de outros novos que ofereçam acompanhamento legal às empresas nas áreas regulatória, de governança e conformidade. Sonia obteve o título de doutora cum laude pela Universidade Rey Juan Carlos por sua tese “A função da conformidade como ferramenta ética, estratégica e de crescimento sustentável das organizações seguradoras”.

donwload pdf
Riscos interconectados: experiência diante da incerteza

Riscos interconectados: experiência diante da incerteza

Os gestores de risco na Europa enfrentam hoje um cenário em que diferentes ameaças estão conectadas de forma cada vez mais profunda. Essas conexões ampliam sua probabilidade, impacto e complexidade, exigindo, portanto, uma abordagem especialmente integrada para sua...

ler mais
Fenômenos solares extremos: como impactam a Terra?

Fenômenos solares extremos: como impactam a Terra?

O Sol, motor energético do nosso sistema planetário, nos fornece luz e calor, mas também gera fenômenos de grande intensidade que impactam diretamente a vida na Terra. Estudar esses eventos é crucial, pois eles podem representar um risco para as redes elétricas e os...

ler mais