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Antony Carro, Representante da NASA na Espanha

“A transmissão de dados evoluiu incrivelmente, assim como a fiabilidade das comunicações”

Há mais de cinquenta anos, a localidade madrilenha de Robledo de Chavela abriga um dos três centros de comunicação que forma a Rede do Espaço Profundo (DSN por suas siglas em inglês), instituição pertencente à NASA. Os outros dois, situados na Califórnia (EUA) e Camberra (Austrália) estão separados aproximadamente 120 graus em longitude. A situação geográfica dos três eixos foi escolhida para poder manter um acompanhamento contínuo de veículos e sondas espaciais garantindo o contato com alguma das estações terrestres, independentemente do movimento diário de rotação da Terra. Anthony Carro, representante da agência espacial na Espanha, nos fala do importante trabalho que realizam a partir daí.

O agora conhecido como ‘Madrid Deep Space Communications Complex’ (MDSCC) começou a ser construído em 1964, você poderia descrever brevemente em que consiste este Complexo, os trabalhos que nele se desenvolvem e sua aplicação?

O MDSCC faz parte da Rede do Espaço Profundo (Deep Space Network – DSN) com estações em Madri, Camberra (Austrália) e Goldstone (Califórnia) que operam vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano. Todas as missões da NASA e algumas missões de outras agências espaciais que se desenvolvem no espaço profundo comunicam-se entre si e transmitem dados científicos através da Rede. Missões tanto à Lua como fora do sistema solar que enviam informação e recebem as ordens necessárias de controle. O objetivo das missões é científico; investigam a origem do sistema solar, fazem busca de vida, estudam a composição dos planetas tanto dentro como fora do sistema solar, além de outras muitas questões de interesse para a comunidade científica.

“Todas as missões da NASA e algumas de outras agências espaciais se comunicam entre si e transmitem dados através da Rede do Espaço Profundo (Deep Space Network – DSN)”

 

Qual é a razão pela qual a NASA escolheu a localização do Complexo em Robledo de Chavela? Robledo de Chavela também desempenhou um papel fundamental para que em 16 de julho de 1969 o homem pisasse pela primeira vez a lua. Concretamente, qual foi sua contribuição nesta façanha?

O objetivo principal é conseguir uma comunicação contínua com as estações espaciais e as missões que estão sendo realizadas no espaço. Para isso é necessário um mínimo de três estações equidistantes e, ao estar a original nos Estados Unidos, a Espanha e a Austrália ofereciam as condições geográficas ideais para sua localização. Nosso país chegou a ter quatro estações – uma nas Ilhas Canárias e três na Comunidade de Madri – que continuam em funcionamento atualmente.

Para as missões tripuladas usaram-se principalmente as estações de Maspalomas, nas Ilhas Canárias, e a de Fresnedillas de la Oliva, perto de Madri, que pertenciam à NASA. A histórica antena desta estação, que foi a que recebeu a primeira comunicação feita a partir da Lua no Apolo XI, terminou sendo transferida para Robledo de Chavela, que até então servia de apoio. Em seu museu é possível contemplar uma das poucas rochas lunares trazida dos Estados Unidos que se resgataram da missão Apolo XV.

 

Atualmente, o Complexo compõe a Rede de Comunicações com o Espaço Profundo (Deep Space Network, DSN), juntamente com as instalações de Camberra (Austrália) e Goldstone (EUA). Que tarefas têm encomendadas estas estações dentro da NASA?

A DSN é uma Rede única no mundo, e as três estações que a compõem têm um equipamento similar. Em Madri temos seis antenas com uma faixa de 26 a 70 metros de diâmetro, e agora mesmo estão sendo construídas outras duas que terão 34 metros de diâmetro. A NASA tem três redes de comunicações: uma para missões de baixa órbita, outra para missões de maior distância e a DSN, que se encarrega das missões mais afastadas da Terra (as que chamamos de espaço profundo, desde as proximidades da Lua até as mais distantes). Atualmente, a missão mais remota é o Voyager 1 e ocorre além do sistema solar, no cinto de Kuiper.

O Complexo de Comunicações com o Espaço Profundo de Madri (Robledo de Chavela, Madri) começou a construir-se em 1964 e desde então foi crescendo e adaptando-se às necessidades da NASA.

O ‘Madrid Deep Space Communications Complex’ é um centro de ponta que conta com seis antenas de diferentes diâmetros e constitui o sistema de comunicações maior e mais sensível do mundo. Que objetivos estão em seu ponto de mira neste momento?

O MDSCC conta com grandes capacidades de transmissão e recepção de comunicações, algo essencial para a NASA e para muitas outras agências espaciais. De fato, e dada a importância desta rede, suas capacidades tecnológicas estão sendo aumentadas. A necessidade de dados científicos detalhados faz com que continuem sendo investigadas maiores capacidades de transmissão com longitudes de onda menores.

O seguinte passo que se quer dar é o de conseguir comunicações a frequências ópticas. A missão Artemis, prevista para o ano 2024, planeja levar a primeira mulher e o próximo homem à Lua. Este será um grande desafio e as capacidades de comunicação serão imprescindíveis.

Do ponto de vista operacional, quais são os principais riscos que se apresentam em um Complexo como o ‘Madrid Deep Space Communications Complex’ (MDSCC) de Robledo de Chavela?

Os desafios operacionais são diários. Há momentos em que é imprescindível comunicar-se com os satélites, momentos em que é necessário enviar um comando em uma situação crítica, como ao colocar-se em órbita ou ao pousar sobre um planeta, asteroide ou cometa. Uma falha na transmissão ocasionaria danos irreparáveis na missão. Desde há pouco mais de um ano, cada uma das três estações controla as outras duas durante o dia. Assim, quando é de dia na Espanha, Robledo de Chavela não só controla as antenas aqui, mas também as da Austrália e Estados Unidos, o que faz nosso trabalho muito mais complexo. Os operadores enfrentam desafios diários na hora de reconfigurar as transmissões por qualquer falha de algum equipamento em três países tão distantes.

 

Com relação a isso, que papel desempenha a tecnologia na mitigação destes riscos? Poderia comentar um exemplo?

A tecnologia avança a passos gigantescos, mas os requerimentos na comunicação de dados científicos são cada vez mais exigentes. Basta pensar que os voos Apolo tinham uma capacidade inferior à de um celular moderno para dar-se conta de que a transmissão de dados evoluiu incrivelmente, assim como a fiabilidade das comunicações. Isto faz com que as missões durem mais do que o planejado. A missão Voyager, lançada em 1977, continua funcionando, agora fora do sistema solar, e enviando informação graças aos avanços tecnológicos.  Nunca se havia pensado que se pudesse seguir em contato depois de mais de quarenta anos, e a uma distância de mais de 140 vezes à que separa a Terra do Sol.

 

Em sua opinião, quais são as perspectivas da indústria das comunicações espaciais a médio e a longo prazo? O que contribuirá para o nosso dia a dia?

As telecomunicações avançam a um ritmo espetacular. Grande parte das comunicações que se realizam hoje em dia são feitas através do espaço. Nós nos vemos obrigados a trocar de celular, computador e qualquer outro dispositivo assiduamente pelo constante progresso da tecnologia. Isto já faz parte das nossas vidas: seria quase impossível prescindir de celulares, GPS, inteligência artificial, etc. E seu desenvolvimento foi em grande parte devido aos avanços científicos produzidos no desenvolvimento da tecnologia para os voos e comunicações espaciais.

Anthony Carro

Anthony Carro, doutor em Física, Matemática, Engenharia Elétrica e Direito, dedicou toda a sua carreira profissional à aviação e ao espaço.

Trabalhou como cientista para o governo dos Estados Unidos, e pouco depois solicitou sua entrada nos quartéis-generais da NASA, em Washington DC. Trabalhou como pesquisador e gestor de numerosas missões da instituição (Fuse, Timed, Near, Messenger, Dawn, Rosetta, JUICE, etc.).

Atualmente é o representante da agência espacial norte-americana na Espanha no Complexo de Comunicações com o Espaço Profundo de Robledo de Chavela (Madri), também conhecida como MDSCC (Madrid Deep Space Communications Complex), centro de comunicações que começou a construir-se em 1964 e que faz parte de uma rede mundial que trabalha em colaboração com outros dois centros similares situados na Austrália e Estados Unidos.

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