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O ambiente tecnológico se move a uma velocidade vertiginosa

Fuencisla Clemares, Diretora Geral de Google para Espanha e Portugal

Como empresa tecnológica, Google aposta na inovação, por considerar cada dia como uma oportunidade para melhorar e empreender novos projetos. Em cada ação que realiza, a companhia enfrenta os riscos e desafios com a temperança necessária para continuar na vanguarda e liderando seu setor.

Em primeiro lugar, como é o dia a dia liderando uma companhia do porte de Google? Quais são os maiores desafios que você enfrenta?

A verdade é que o ambiente tecnológico se move a uma velocidade vertiginosa, por isso, é um desafio manter as equipes de trabalho treinadas nas últimas novidades. Estamos estudando constantemente as tendências relativas ao nosso setor e atualizando nossos produtos e serviços. Além disso, desenvolvemos programas e materiais para que todos os nossos parceiros também estejam atualizados.

Outrossim, para manter a liderança é necessário diversificar e apostar em muitas frentes diferentes. Neste sentido, uma das maiores dificuldades é decidir como priorizamos nossos recursos entre tantos projetos, porque devemos assegurar-nos de manter o foco no mais relevante, e que seja realizado da melhor maneira possível.

A tecnologia e os conhecimentos avançam a passos de gigante, Google está celebrando seu vigésimo aniversário. Como a companhia consegue adaptar-se às mudanças e se manter na vanguarda no seu setor?

Continuamos na vanguarda, permanecendo fiéis à filosofia que a empresa forjou há 20 anos, baseada na organização da informação que é gerada em todo o mundo, tornando-a útil e acessível para todos os usuários. Desde Google idealizamos e damos vida a nossos serviços pensando nos usuários, em como facilitar suas vidas, de maneira que temos que evoluir no seu ritmo.

“Nos vemos como um parceiro tecnológico estratégico para as seguradoras no que se refere a seu processo de transformação do negócio”

Além disso, contamos com uma equipe de profissionais que não somente ama o que faz, mas também é plenamente consciente de que seu trabalho pode mudar a vida das pessoas. Nossos profissionais estão alinhados a um mesmo objetivo: desenvolver produtos e soluções que ajudem os usuários no seu dia a dia, sejam empresas o particulares.

Google está apostando continuamente em inovação, você pode mencionar alguma iniciativa ou desenvolvimento de especial relevância?

A grande revolução vem acompanhada de um ramo da Inteligência Artificial: o Machine learning. Através desta ferramenta, podemos fazer com que as tarefas complexas sejam muito mais simples, para que os usuários possam otimizar seu tempo e não perdê-lo com funcionalidades complicadas. Em Google já aplicamos a Inteligência Artificial em todos os nossos produtos e serviços e, graças a isso, conseguimos avanços como o do nosso novo telefone celular, ‘Píxel 3’. Este dispositivo é capaz de criar, por exemplo, um aspecto natural para as fotos, inclusive quando há pouca luz. Da mesma forma, fizemos progressos como desenvolver, em apenas quatro meses, a funcionalidade Smart Reply para agilizar as mensagens, ou como implementar Google Translate (nosso tradutor online) para que seja capaz de traduzir em um único dia 143 bilhões de palavras para quase 100 idiomas.

Gostaria também de destacar um projeto que estamos realizando no âmbito da saúde, onde conseguimos desenvolver um algoritmo que facilita a previsão de ataques cardíacos ou derrames cerebrais com a informação obtida da análise da retina. Além disso, trabalhamos de maneira proativa com profissionais da medicina em outra iniciativa para detectar o câncer de mama de maneira precoce.

Quais são os principais riscos que enfrenta uma entidade como Google?

Penso que, mais do que de riscos, eu falaria de desafios, entendidos como aqueles que deve enfrentar qualquer organização quando cresce e se desenvolve. Nosso principal desafio é continuar proporcionando bons serviços e produtos que sejam úteis e que ajudem nossos usuários a conseguir seus próprios objetivos.

Como companhia tecnológica, temos a obrigação de fomentar a formação digital com o objetivo de conseguir profissionais muito mais preparados para desempenhar as tarefas do presente e do futuro. Este é um desafio com o qual temos um grande compromisso porque impulsiona a empregabilidade: no âmbito europeu treinamos a mais de três milhões de pessoas em diversas áreas digitais, somente na Espanha a mais de 350.000 (das quais mais de 40.000 encontraram trabalho). Por tudo isso, colaboramos de maneira muito estreita tanto com as empresas como com as instituições dos países nos quais operamos. É a chave para que um país faça crescer sua estratégia digital e esteja preparado para a revolução que estamos vivendo.

“O novo ambiente requer muito mais colaboração entre as diferentes equipes, mais velocidade na execução e na inovação, mais compartilhamento de inovação.”

Há algum tempo Google vem apostando em energias renováveis, tanto fazendo investimento em projetos de desenvolvimento como implantando instalações de energia verde em seus centros. Quais vão ser os seus próximos passos neste terreno?

Atualmente somos a empresa que mais compra energia renovável do mundo, com compromissos que alcançam os 2,6 gigawatts (2.600 megawatts) de energia eólica e solar. Para alcançar este objetivo, adquirimos suficiente energia eólica e solar a cada ano para poder realizar todas as tarefas operacionais no âmbito global e estamos nos concentrando em conseguir energia dos projetos que estamos financiando.

Em um futuro imediato, continuaremos com estes contratos diretos à medida que crescemos, concentrando-nos ainda mais na compra de energia renovável no âmbito regional onde tenhamos centros de dados e operações importantes. E, dado que o vento não sopra durante as 24 horas do dia, também ampliaremos nossa demanda para fontes de energia diferentes. Nosso objetivo final é criar um mundo onde todos, não somente Google, tenhamos acesso à energia limpa.

Mudando um pouco de assunto, quais são os âmbitos de colaboração entre as grandes tecnológicas como Google e as grandes seguradoras?

Os possíveis âmbitos de colaboração são bastante amplos. Nos vemos como um parceiro tecnológico estratégico para as seguradoras no que se refere a seu processo de transformação do negócio, para ajudar a sua adaptação à nova era digital. Entre os aspectos nos quais interagimos com este setor eu destacaria:

  • Assessoramento na transformação dos processos de captação de negócio, gestão de campanhas publicitárias e implantação de tecnologia para incorporar dados que lhes ajudem a ser mais eficientes na captação de clientes.
  • Implantação de ferramentas de medição (Google Analytics) que permitam uma visão completa do cliente, independente do canal ou tela através da qual interagem.
  • Migração de servidores e infraestrutura tecnológica para a nuvem com a finalidade de reduzir custos e ganhar em segurança e flexibilidade.
  • Implementação de ferramentas de Big data (armazenamento, visualização, processamento e tratamento) junto com algoritmos de Machine learning, para gerar e ativar insights de negócio em escala e em tempo real.
  • Implantação de ferramentas de colaboração e produtividade (como Gmail, Drive, Hangouts) com o objetivo de provocar uma mudança fundamental na cultura corporativa e na forma de trabalho.

Seus serviços vão muito além de um simples buscador de internet: mapas, plataformas de conteúdo audiovisual, análise de dados, armazenamento de livros, publicidade… e até um assistente inteligente. Quais serão as seguintes apostas?

Por um lado, estamos bastante concentrados em melhorar a era da assistência por voz e em ajudar as empresas a adaptar seus serviços a esta nova realidade, na qual os usuários já estão imersos. E, pelo outro, estamos empenhados em tornar possível a conectividade entre dispositivos compatíveis entre si, algo que é fundamental, por exemplo, no ambiente doméstico.

Como você acha que as grandes empresas devem enfrentar o futuro em função dos avanços tecnológicos e dos efeitos da digitalização? Quais são suas recomendações?

Eu sempre falo de três conceitos chave na hora de abordar a transformação digital:

  1. Desenvolver experiências de nova geração: é necessário adaptar os modelos de negócio ao digital, porém não replicar o que fazemos no mundo offline, mas sim pensar de que maneira o desenvolvimento tecnológico pode nos ajudar a reduzir os atritos que um cliente tem ao interagir com nossa marca e gerar experiências totalmente novas.
  2. Aplicar Big data e Machine learning a todo o negócio: pensar no potencial de personalização de toda a experiência do cliente, bem como na incorporação de algoritmos para a otimização de todas as decisões de negócio que utilizam grandes quantidades de dados, como pode ser a estratégia de preços, previsões, avaliação de riscos, gestão de estoques, otimização de rotas logísticas, etc.
  3. O sucesso da transformação do negócio da companhia passa pelas pessoas e por uma profunda mudança na forma de trabalhar. O novo ambiente requer muito mais colaboração entre as diferentes equipes, mais velocidade na execução e mais compartilhamento de inovação. Em suma, é necessário romper as barreiras que normalmente existem nas empresas tradicionais, que as paredes entre os departamentos se tornem porosas e as organizações muito mais líquidas.

Fuencisla Clemares – Perfil

Fuencisla Clemares

Sou Bacharel em Administração de Empresas e fiz um MBA pelo IESE no ano 2000. Comecei minha carreira profissional na McKinsey & Company, onde me especializei em Marketing e em Retail. Em 2007 comecei a trabalhar no Carrefour como Diretora de Compras, liderando a estratégia comercial e o relacionamento com os fornecedores do departamento de Casa.

Dois anos mais tarde cheguei pela primeira vez a Google Espanha e, desde então, estou trabalhando para potencializar a digitalização de diferentes indústrias com o objetivo de ajudá-las a serem mais competitivas no mundo on-line. Em novembro de 2016, fui nomeada Diretora Geral de Google para Espanha e Portugal.

Pessoalmente estou muito interessada no mundo educacional e em ressaltar o papel fundamental que desempenha a mulher, bem como o seu empoderamento no mundo tecnológico. Por isso, concilio meu trabalho na direção de Google com atividades formadoras, colaborando no Programa de Mestrado do IESE e como professora no ISDI (Instituto Superior para o Desenvolvimento da Internet).

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